Fisiculturista Rene Campbell quer mudar a visão sobre o corpo feminino

Mais do que marcado por várias tatuagens, o corpo dela é definido por músculos. Mãe de dois filhos, a inglesa Rene Campbell comunica poder e força

Quando começou sua carreira de fisiculturista, Campbell diz que comer grandes quantidades de comida foi, a princípio, um choque para o corpo e a mente

Quando começou sua carreira de fisiculturista, Campbell diz que comer grandes quantidades de comida foi, a princípio, um choque para o corpo e a mente Foto: Instagram/ Reprodução

Por Noura Abou Zeinab, da CNN

03/12/2020 às 00:44

 

Mais do que marcado por várias tatuagens, o corpo dela é definido por músculos. Mãe de dois filhos, a inglesa Rene Campbell comunica poder e força.

A fisiculturista dedicou a maior parte de sua vida a esculpir sua estrutura, outrora diminuta, em um corpo que vai “completamente contra o que a sociedade pensa que uma mulher deve ser”.

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A dedicação da fisiculturista trouxe muitos prêmios, mas construir o corpo dos seus sonhos – ganhando mais de 38 quilos, passando de um tamanho de roupa 38 para o 44 – também teve seus desafios, tanto físicos quanto mentais.

“Eu estava muito insegura sobre minha imagem corporal, muito insegura sobre mim como pessoa”, Campbell, 44 anos, contou à CNN, falando de sua casa em Cornwall, Reino Unido, e refletindo sobre sua motivação para se transformar.

“Eu sentia sem parar a pressão da mídia de que as mulheres precisam ter uma determinada aparência”.

“Uma mulher com músculos”

“Por um bom tempo, lutei com distúrbios alimentares porque estava constantemente tentando manter meu peso bem baixo, para parecer magra, como as mulheres das capas de revistas”, lembrou.

Foi então que ela assistiu a um show de fisiculturismo feminino e ficou intrigada com a forma como essas mulheres aparentemente confiantes se comportavam.

Embora Campbell diga que adora a sua aparência agora, conta que às vezes é tratada com crueldade, como quando lhe pedem para sair do banheiro feminino.

“Muitas vezes eu enfrento muita negatividade. As pessoas têm uma mentalidade antiga”, acrescentou.

“Eu enfrentei e ainda enfrento muitas críticas de pessoas que não entendem por que as mulheres querem ser musculosas. Mas isso apenas me deu uma sensação de confiança e força mental”, conta.

“Será que estou presa a uma situação na qual tenho de provar que sou mulher para usar o banheiro? Isso é muito ofensivo. Eu tento explicar

direitinho. Posso parecer assim, mas, no fim das contas, sou uma mulher. Tenho todo o direito de usar o banheiro feminino”.

A fisiculturista dedicou a maior parte de sua vida a esculpir sua estrutura

A fisiculturista dedicou a maior parte de sua vida a esculpir sua estrutura, outrora diminuta, em um corpo que vai “completamente contra o que a sociedade pensa que uma mulher deve ser”

Foto: Instagram/ Reprodução

 

Estudando mulheres fisiculturistas

Por mais de uma década, a socióloga Tanya Bunsell tem pesquisado mulheres fisiculturistas.

“Quando eu dizia às pessoas que estava estudando mulheres fisiculturistas, a primeira reação era: ‘Isso não é nada atraente’”, lembrou a doutora Bunsell, professora de Ciências do Esporte e Exercício na Canterbury Christ Church University, à CNN Sport.

“Definitivamente, há um teto de vidro que as mulheres não alcançam nessa área, aquela fronteira onde o corpo se torna transgressor e interroga as noções de homem e mulher das pessoas”.

“O corpo incômodo e perturbador da mulher hiper-musculosa é considerado tão absurdamente desviante pela sociedade que provoca comentários ásperos. Mesmo que haja um enorme mercado incentivando as mulheres a definir o abdome e ficarem mais firmes, o ideal ainda é cinturas menores, quadris curvos e pernas magras, a chamada figura de ampulheta”, acrescenta a doutora Bunsell.

“Uma máquina incrível”

Quando começou sua carreira de fisiculturista, Campbell diz que comer grandes quantidades de comida foi, a princípio, um choque para o corpo e a mente.

“Minha temperatura corporal subiu”, contou, dizendo que ganhar peso inicialmente a assustou. “Eu sentia calor o tempo todo porque comia constantemente, mas, depois de superar esse estágio, o corpo se torna uma máquina incrível e começa a absorver esse combustível.”

“Existe uma relação muito próxima entre paixão, dedicação e obsessão”, diz Campbell. “Basta observar qualquer atleta que alcançou grandes feitos para notar que tem de haver um certo nível de obsessão nisso”.

Uma fotografia de Campbell faz de uma exposição atualmente em cartaz em Londres, chamada “Womanhood”. Max Ellis, o fotógrafo que fez o retrato de Campbell, descreve seu tema como uma “obra de arte”.

“Ela trabalhou toda a sua vida para tentar alcançar isso”, disse Ellis. “Uma mulher que faz isso [musculação], está nadando contra a corrente. Ela luta contra todas as convenções conhecidas”.

Foto no Instagram de Rene Campbell

Foto no Instagram de Rene Campbell

Foto: Reprodução/ Instagram

 

Anabolizantes

O fisiculturismo, porém, tem um lado obscuro: a longa associação com o uso de esteroides anabolizantes para ajudar a construir músculos.

“Antes de ir para o campeonato mundial, Rene teve que fazer um teste de drogas e passou, mas muitas dessas meninas não passaram”, relatou Wanda Tierney, presidente da Comitê Feminino da IFBB (Federação Internacional de Culturismo e Fitness).

Campbell diz que seria ingênuo pensar que o problema não existe, mas argumenta que o abuso de esteroides ocorre em outros esportes e na sociedade também.

“A responsabilidade recai sobre os atletas em cumprir as regras e regulamentos estabelecidos pela federação”, diz Campbell. “Minha federação (IFBB) é signatária do Código da WADA (Agência Mundial Antidoping) e as regras antidoping da IFBB estão em total conformidade com o código da WADA 2015.”

Ao refletir sobre a evolução de seu corpo, Campbell fez questão de enfatizar como o fisiculturismo foi acompanhado por uma mudança em sua saúde mental.

“Foi uma grande mudança mental, porque minha jornada no fisiculturismo me fez perceber que eu precisava fazer as coisas por mim mesma”.

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