Aliança de Havelange com Países Africanos Iniciou Mudança na Copa do Mundo
Content:
ToggleHenrique Sales Barrosda CNN , Em São Paulo
18/11/2022 às 04:00 | Atualizado 17/11/2022 às 20:07
Na imagem: João Havelange, então presidente de honra da Fifa, em seu escritório no Rio de Janeiro, em 2008
• Fábio Motta/Estadão Conteúdo
A Copa do Mundo de 2022, no Catar, marca o fim de uma era que começou em 1998, quando o torneio passou a contar com 32 seleções. A partir de 2026, quando o evento ocorrerá no Canadá, no México e nos Estados Unidos, o número de participantes aumentará para 48.
O formato com 32 seleções, inicialmente divididas em oito grupos de quatro times, é o mais tradicional da história da Copa do Mundo. A primeira ampliação no número de participantes aconteceu em 1982, na Espanha, quando o torneio passou de 16 para 24 equipes.
A mudança de 1982 começou a ser planejada anos antes, na Copa de 1970, quando a FIFA concedeu à África pelo menos uma vaga fixa no torneio, uma conquista que ficou com Marrocos.
Leia Mais
-
Veja quem são os jogadores de clubes brasileiros que estarão na Copa
-
Museu do Futebol terá programação especial durante a Copa do Mundo; confira
-
Veja os jogadores convocados de todas as seleções para a Copa do Mundo do Catar
Durante a década de 1960, muitos países africanos conquistaram sua independência e se tornaram membros da FIFA, frequentemente no mesmo ano em que também ingressaram na ONU. Esses países, agora independentes, enfrentavam desafios decorrentes das fronteiras artificiais impostas por colonizadores europeus. Para muitos, o futebol representava uma forma de promover a unidade nacional, conforme explica o historiador José Airton de Farias, do Instituto Federal do Ceará.
“Países como a Nigéria, que passou por uma guerra civil no final da década de 1960, investiram milhões na construção de estádios e campos de futebol buscando unir seus povos”, enfatiza Farias, autor de “Uma História das Copas do Mundo: Futebol e Sociedade”.
João Havelange, então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), estava atento a essas mudanças. Com o objetivo de se tornar presidente da FIFA, Havelange começou a construir apoio na África, defendendo a ampliação da Copa do Mundo para incluir mais representantes de fora do eixo Europa-América do Sul.
No final dos anos 1960, ele facilitou excursões do Santos, time de Pelé, à África, visitando locais até mesmo em meio a conflitos. Com a ajuda de Pelé, que superou dificuldades financeiras por conta de Havelange, o ex-dirigente se tornou um importante aliado nas visitas ao continente africano, buscando apoio entre os dirigentes locais.
Mais sobre a Copa
-
Adversário do Brasil na Copa, Suíça perde amistoso para Gana
-
Zebra! Veja quem pode surpreender na disputa da Copa do Mundo do Catar
-
Quem são os veteranos que devem disputar sua última Copa do Mundo
O historiador Maurício Drumond, pesquisador do Laboratório de História do Esporte da UFRJ, destaca que “no sistema de votação para a presidência da FIFA, cada federação tem um voto, o que favoreceu a estratégia política que Havelange implementou”.
Nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1958, as seleções africanas, asiáticas e oceânicas somavam oito representantes, enquanto 27 eram europeias. Já na fase de qualificação para a Copa de 1974, o número de países da África, Ásia e Oceania subiu para 39, dos quais 24 eram da África, o foco da campanha de Havelange.
“Havelange soube captar as transformações políticas da época. Sua candidatura, impulsionada pela ascensão da Seleção Brasileira no futebol, utilizou o discurso do terceiro-mundismo, muito relevante na época”, afirma Farias.
A corrente do terceiro-mundismo defendia a união e apoio entre países em desenvolvimento, não alinhados nem aos Estados Unidos nem à União Soviética durante a Guerra Fria, como muitos países africanos e asiáticos.
Havelange foi eleito presidente da FIFA em 1974, se tornando o primeiro e único não-europeu a assumir a presidência da entidade. Durante seu mandato, a Copa do Mundo foi oficialmente expandida para 16 e posteriormente para 32 seleções.
Quando Havelange assumiu, havia apenas três vagas fixas para seleções de fora do eixo Europa-América do Sul. Ao deixar a presidência em 1998, esse número havia subido para 12.
O ex-dirigente deixou a presidência da FIFA dias antes do início do Mundial na França, mas permaneceu como presidente de honra até 2013, quando se afastou em meio a escândalos de corrupção.
Como essa aliança entre Havelange e países africanos transformou a Copa do Mundo?