Especialistas abordam sobre os riscos e importância do combate ao uso do cigarro

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), consumo de tabaco caiu 35%

O Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado no último dia 29 de agosto, é uma data para conscientizar a população sobre os riscos do tabagismo.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o tabagismo é responsável por cerca de 30% das mortes por doenças cardíacas no Brasil. O risco de infarto em fumantes é três vezes maior em comparação com pessoas que nunca fumaram. Além disso, o tabagismo passivo, ou seja, a inalação da fumaça por não-fumantes, também é um fator de risco significativo, sendo responsável por milhares de mortes prematuras todos os anos.

De acordo com o médico cardiologista, Marcello do Lago Palácio, o fumante passivo apresenta risco similar ao tabagista ativo, uma vez que boa parte das substâncias tóxicas também são eliminadas no ar.

 

Efeitos

Conforme explica o psicólogo clínico, Eustázio Alves, o tabaco está entre as drogas com mais altos níveis de compulsão. Pela escala das compulsões, no estudo da USP, de zero a dez, o tabaco tem o nível nove, o que é equivalente à compulsão da heroína entre as substâncias psicoativas mais difíceis de superar.

Por isso, no primeiro mundo há a aplicação da metadona (cuja vida útil é três vezes mais prolongada que a heroína). E no caso do tabaco em todo mundo os selos adesivos para redução gradativa ao uso (aplicações de dosagem gradativa cada vez com mais redução no processo de tratameto).

De acordo com o médico Marcello de Lago, o principal efeito do cigarro se dá pela geração de um processo inflamatório nos vasos. Portanto, gerando um estreitamento do vaso reduzindo a passagem do sangue além de atuar na formação das placas de gordura que comprometem ainda mais a passagem do sangue podendo levar ao infarto ou AVC.

“O fato do fumo inflamar os vasos do corpo deixa estes vasos endurecidos. O enrijecimento leva a um aumento da pressão arterial. Infelizmente, a hipertensão é uma doença silenciosa, devendo o paciente manter um acompanhamento regular para descobrir o quanto antes e tratar com brevidade”.

 

Importância do combate

Sobre a importância de programas que visem encerrar o uso do tabagismo para a prevenção de doenças cardíacas, Palácio cita que não existe uma dose segura para o consumo de cigarro, devendo o paciente cessar o consumo o quanto antes a fim de minimizar os danos e lesões geradas pelas substâncias presentes no cigarro.

“As campanhas são fundamentais para tentar conscientizar a população em geral dos riscos e complicações geradas pelo fumo. Uma vez que boa parte dos novos fumantes começam a fumar por verem seus familiares também o fazerem”.

Em relação aos desafios e obstáculos mais comuns que as pessoas enfrentam ao tentar deixar de fumar é que por se tratar de uma dependência química, no início o organismo o usuário irá sentir a falta da nicotina gerando ansiedade e – em algumas ocasiões – crises de abstinência levando a recaídas. “Além disso, a existência ou a convivência com outros fumantes que não estejam tentando acabar com o fumo pode acabar levando a recaídas. O ideal é um apoio familiar presente e que todos na casa busquem o mesmo objetivo”.

Alves cita que há um risco enorme em relação aos jovens, que são atraídos pela curiosidade e de forma recreativa, uma perigosa armadilha na faixa etária adolescente, pois estudos demonstram que cerca de sete semanas do uso sistemático do tabaco leva a uma escravidão de mais de 20 anos e lucros garantidos à indústria do cigarro. “A manifestação da então dependência química à nicotina se associa a componentes físicos, com desejo cada vez mais intenso de fumar e psicológicos, pelo sentido de que o fumante passa a ter o tabaco como companheiro para lidar com situações de estresse e frustrações”.

 

Abandono do uso

Desse modo, a médica cardiologista Julianny Freitas ressalta ainda que, embora o abandono do cigarro seja um desafio para muitos, os benefícios à saúde são significativos. Dessa forma, podem ser percebidos em pouco tempo. “Após 20 minutos sem fumar, a pressão arterial e os batimentos cardíacos voltam ao normal. Em 24 horas, o risco de um ataque cardíaco já começa a diminuir. A longo prazo, após 15 anos de abstinência, o risco de doença coronariana se iguala ao de uma pessoa que nunca fumou.”

Além dos impactos diretos no coração, o tabagismo também contribui para o desenvolvimento de outras doenças. Sendo assim, como câncer de pulmão, doenças respiratórias crônicas e acidente vascular cerebral (AVC). Os fumantes têm o dobro de chances de sofrer um AVC em comparação com não-fumantes.

O psicólogo clínico aborda que quem opta por abandonar o vício fica motivado, geralmente, em busca de se sentir-mais disposto e saudável. E visando melhor qualidade de vida sua e de sua família (fumantes passivos). “Algumas vezes busca ajuda profissional e logo consegue sentir os efeitos benéficos no organismo quase que instantaneamente. Em relação ao bem-estar mental, o processo tende a acontecer gradativamente. O ciclo crônico de sintomas de privação, com ansiedade e irritabilidade, vai diminuindo, faz parte do processo”.

Portanto, ele menciona que é importante a busca de outros tipos de prazeres mais duradouros que o efeito imediato da nicotina. Dessa maneira, com isso, suas relações pessoais mudam, melhorando sua disposição para atividades de trabalho, atividade física e lazer.

 

E-cigarros

Com a crescente popularidade dos cigarros eletrônicos, muitos fumantes acreditam que essa pode ser uma alternativa menos nociva.

No entanto, estudos recentes apontam que os e-cigarros também contêm nicotina e outras substâncias prejudiciais. Desse modo, que podem causar inflamações nos pulmões e aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

O médico Marcello do Lago complementa que os dispositivos eletrônicos para fumar são tão ou mais prejudiciais que os cigarros tradicionais. Uma vez que em sua maioria são contrabandeados, não havendo uma fiscalização confiável na produção dos dispositivos bem como nos líquidos que são usados neles.

Segundo Alves, no que diz respeito ao cigarro eletrônico, a indústria do tabaco, desesperada por vivenciar perdas substâncias de lucros, encontrou outras maneiras de levar à dependência química, a partir da juventude.

“O vape tem níveis de nicotina semelhantes ou superiores aos do cigarro tradicional. Além disso, devido a forma que entrega a nicotina, facilita sua inalação por períodos maiores, sem ocasionar aparente desconforto ao usuário, esses dispositivos teriam uma facilidade maior do que o cigarro convencional de tornar o usuário dependente, objetivo que vem sendo alcançado.

Um estudo do Hospital das Clínicas da USP mostrou que o cigarro tradicional tem um limite de 1 mg da substância no Brasil, enquanto os eletrônicos chegam a 57 mg por ml. Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), um único vape equivale a um maço com 20 cigarros.

Dessa forma, ele menciona que não obstante as políticas adotadas há três décadas no Brasil, o número de fumantes tende a aumentar nos próximos anos, atendendo aos objetivos dos lucros. Portanto, na sociedade de consumo, o ser humano pouco importa. Os lucros são priorizados, contornados e em prejuízo as leis que beneficiam a saúde pública.

 

Dados

Conforme o psicólogo clínico informa, um dado importante é que o Brasil obteve uma queda substancial do número de fumantes de 35% segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS.

Portanto, tendo em vista as políticas adotadas nas últimas três décadas, as quais incluíram, aumento do preço do cigarro (até os anos 80, o cigarro no Brasil era o segundo mais barato do mundo, só perdia para a Indonésia); proibição da propaganda; aumento dos impostos.

As políticas sérias e firmes adotadas no Brasil, no final do século XX, ainda repercutem positivamente. O Brasil é o País que ostenta um dos menores índices de fumantes do mundo. E é reconhecido pela OMS como um exemplo no combate ao cigarro (políticas adotadas durante os anos 90). No entanto, o tabagismo continua a ser um problema grave no Brasil. Desse modo, com 443 mortes/ por dia devido ao fumo, o que corresponde a 161.853 mortes por ano.

Santos

“Defendemos como forma urgente a formação de coalizões comunitárias de prevenção, nos moldes da recém criada na Zona leste de Santos, em parceria da Diretoria Regional de Ensino (Secretaria do Estado da Educação) e Associação Pró Coalizões Comunitárias do Brasil, ações de prevenção que vem obtendo os melhores resultados em várias partes do mundo e já em cidades brasileiras, tal como em Pindamonhagaba, no Vale do Ribeira”, comenta Eustázio Alves.

Para ter noção, em Santos, recente estudo que ocorreu com estudantes de 11 a 17 anos, sobre o uso de drogas, incluindo o consumo do tabaco – cigarro e vape (durante os meses de abril e maio/2024). Cerca de 90,3% nunca fumaram cigarro, 2,6% fumaram nos últimos 30 dias, 3,2% fumaram no último ano e 3,9% há mais de um ano.

Já sobre o cigarro eletrônico, 86,2% nunca fumaram, 1,6% fumaram nos últimos 30 dias, 5,5% fumaram no último ano e 6,6% há mais de um ano. Portanto, o psicólogo menciona que a melhor forma de prevenção é distanciar o primeiro uso. Até 19 anos de idade estudos por universidades (internacionais e mesmo no Brasil) demonstram que jovens que não bebem e não fumam até essa idade, 90% seguem em suas vidas sem desenvolverem compulsões pós modernas.

 

Tratamento gratuito

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamentos integrais e gratuitos às pessoas que desejam parar de fumar por meio de medicamentos como adesivos, pastilhas, gomas de mascar (terapia de reposição de nicotina) e outros. Além do acompanhamento médico necessário para cada caso. Mais informações podem ser obtidas no Disque Saúde 136.

Segundo o médico Marcello do Lago, hoje o tratamento para encerrar o hábito do tabagismo possui como base em 3 pilares, medicamentoso, acompanhamento médico e apoio psicológico. Por se tratar de uma dependência química, o tratamento é demorado e precisa de acompanhamento regular para evitar-se recaídas.

 

 

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